Todo dia o blog recebe mensagens de pessoas acometidas de alguma dor, sem saber o que fazer. Ou a que aspirar. A maioria, eu suspeito, intui que se a dor for antiga, dificilmente haverá solução para ela. Desejam, sim, expor a sua situação e ser ouvidos. Por isso, eu sempre dou retorno. E é um inferno porque eu apenas posso opinar, e uma opinião é bem menos interessante que uma prescrição de Tylenol ou Prozac. No intuito de oferecer alguma orientação doméstica – e absolutamente nada médica, esclareço – tracei algumas mal traçadas baseado na minha própria experiência enquanto paciente crônico. O relatado em alguma medida me permitiu controlar a dor, que não era maligna (isso também conta). Não apresento isso como fórmula a seguir, e sim, como prova de que em geral: 1) uma dor crônica (desde que não maligna, ou pós-operatória), pode ser aliviada e controlada por qualquer bípede sem formação na área da saúde; 2) sempre que enfrentada ativamente (você assume o seu tratamento e os profissionais da saúde ajudam, não comandam) e com base num plano multimodal (integrando todas as correções a fazer na maneira de viver).
Para facilitar o entendimento do leitor, em primeiro lugar eu vou transcrever a mensagem (exemplar, aliás) de uma visitante do blog recebida recentemente. A minha resposta, intencionadamente genérica, vem depois.
O COMENTÁRIO
A uns oito meses venho tendo dores insuportáveis, começaram com uma cólica, meu ginecologista descartou a endometriose, fiz duas ressonâncias magnéticas, e na última, descobriu uma hérnia, na lombo sacra. Só que já usei desde os remédios para dor, quanto para depressão… e as dores agora não estão só na coluna, ela erradia por meus braços, pernas, pescoço… faço fisioterapia, pilates…. não sei mais que fazer, que tipo de profissional recorrer, porque os ortopedistas que fui, sempre são as mesmas medicações, que não adiantam de nada…
A RESPOSTA
Fiquei comovido com seu comentário. O Blog Dor Crônica não pode dar conselho profissional ou psicológico específico; apenas um médico pode fazê-lo. O Blog é um canal informativo. Mas, eu posso, sim, dar uma opinião. Eu sei o que é essa via crucis em busca de um médico que entenda a sua condição. (A minha hérnia era cervical.)
Você reagiu ao post “Como o diagnóstico da Fibromialgia mudou nos últimos 25 anos?”. No momento, porém, o seu diagnóstico parece indefinido. A maioria dos que reclamam de dores generalizadas imaginam ter fibromialgia ou foram diagnosticados inadequadamente nesse sentido. Isso causa um impacto psicológico inútil e prejudicial para uma recuperação. Talvez seja o seu caso.
Um primeiro passo, então, seria você questionar o que imagina ser a causa da sua dor. Se equivocado, você pode estar agoniado ou imobilizado desnecessariamente, ou estar embarcando num tratamento errado. Obtenha ao menos um pré-diagnóstico com um médico, de preferência um reumatologista experiente em tratar fibromialgia – ao menos para tirar essa suspeita da frente. (Pré-diagnóstico, porque dores crônicas demoram bastante tempo em ser diagnosticadas com alguma precisão. Um diagnóstico de fibromialgia pode demorar anos.) Pode ser, também, que você tenha a sorte de consultar um médico especializado em dor que realmente saiba do riscado.
Mas, repito, é apenas a opinião de um ex-paciente; contudo, lembre que sem um diagnóstico claro e bem fundamentado, qualquer tratamento será um tiro no escuro.
Um segundo passo é aceitar que em geral não há cura para condições crônicas – a fibromialgia, é um exemplo – mas que também é possível conviver com elas, de maneira a preservar a qualidade de vida. Aceitar não significa jogar a toalha diante da doença, e sim reconhecer que ela terá de ser enfrentada todo dia, por você, com recursos próprios e sem um médico do seu lado para lhe servir de bengala. E que ter qualidade de vida não é um objetivo de se jogar fora.
O terceiro passo é se informar melhor sobre a natureza da dor crônica (> 3 meses). À diferença de uma dor aguda, e desde que não seja maligna (ex.: câncer), uma dor crônica tem mais a ver com a mente do que com o corpo. Nisso ninguém acredita, claro, mas é a verdade. Portanto, convém conhecer o inimigo, saber de onde pode estar vindo, dos tratamentos possíveis, das consequências de nada fazer etc., e do que você está fazendo – ou não está fazendo – para enfrentar essa condição. Estudando a dor, e revendo o que você pensa sobre ela e como enfrentá-la, você adquire, acredite, o que antes nunca teve: algum controle sobre o seu destino enquanto paciente. Isso faz uma enorme diferença.
O que cabe fazer em seguida é traçar um plano de enfrentamento da doença, de caráter multimodal.
Ele deve comtemplar:
- A eliminação de estressores. Se você vive angustiado, com raiva, deprimido ou superansioso, não vai melhorar com medicamentos, nem com nada.
- A eliminação de contatos interpessoais tóxicos.
- A redução ao máximo dos remédios para tirar a dor; evitar os que os parentes ou vizinhos recomendam e manter apenas os prescritos pelo médico.
- O aumento ao máximo da vida saudável (exercícios, dieta, sono etc.)
- A revisão detalhada do seu ambiente em casa ou no trabalho, de um ponto de vista ergonômico. Mudar espaços, posturas e movimentos habituais – uns de imediato e outros aos poucos – está no cardápio.
- Se você for do tipo sociável, ingressar num grupo de apoio online.
- Procurar distrações que o protejam de ficar pensando na dor o tempo todo.
- Ficar em paz consigo mesmo. Recorrer a formas agradáveis de acalmar a mente, chame isso de meditação, mindfulness ou simplesmente respiração diafragmática por 3 minutos.
A última etapa é a mais difícil: ter paciência e consistência em relação a todo o anterior. Dependendo da severidade da condição dolorosa, é possível preservar qualidade de vida, mas é demorado e requer estudo, mudança de hábitos e autogestão do tratamento. Isso toma tempo e muita serenidade quando houver um revertério no processo de recuperação – que seguramente haverá. Surtos de dor são comuns. Somente as pessoas muito determinadas conseguem surfar essas ondas sem desistir, devo dizer.
E acima de tudo, não desanime. Não piore sua condição dolorosa perdendo a esperança, sem antes você mesmo tomar seriamente a iniciativa para se aliviar – uma atitude que para muitos é como falar grego.
Uma resposta
Quero agradecer a Deus por ler esse artigo numa madrugada onde estava com muita dor n lombar ( q já tive antes diversas vezes , ou na lombar ou na perna ).
Eu acabei de orar pedindo a Deus alívio e declarando q não ia me entregar a dor . Deitei e resolvi buscar no Google pelo tema dor lombar o que pode ser
Vi alguns motivos como hérnia , cauda , etc e senti a dor ficando maior. Era meu medo apertando a musculatura ou nervos não sei .
Cheguei aqui e fiquei extremamente interessada nesta parte em que você fala da provável causa estar na mente . E senti literalmente parte da dor ir embora qdo pensei : eu não vou me render a essa dor. Senti imediatamente a dor perdendo força e um alívio me fez deitar de lado o que não estava conseguindo antes
Eu sou psicóloga e acredito piamente na relação estresse e dor mas achava realmente q essa dor tinha alguma causa física , meu pai teve hérnia. Mas estou até agora aliviando mais e mais e não tenho como não agradecer a essa leitura oportuna e cheia de verdades que podem fazer mais efeitos que remédios .
Claro , não exclui ir ao médico , o q farei se persistir o incomodo. Mas , vou cuidar ainda mais da mente e levar esse artigo a muitas outras pessoas.
Obrigada. Deus abençoe a sua vida